quarta-feira, 23 de maio de 2018

Um dia com o Mesa Brasil Sesc Sorocaba

Foto: Mirella Ghiraldi
Quem me acompanha pelas redes sociais, com certeza conferiu de perto uma das experiências mais enriquecedoras que já tive. Mas claro que eu precisava deixar registrado aqui no blog, para que todo mundo pudesse entender um pouco melhor, tudo aquilo que vivi ao lado de pessoas tão especiais.

E se você, chegou até aqui mas não está entendendo o que estou falando, calma que eu explico. No último dia 08 de maio, eu estive acompanhando um dia de trabalho da equipe do Mesa Brasil em Sorocaba, um programa do SESC que existe há mais de 20 anos e cujo objetivo é o combate ao desperdício de alimentos, a má distribuição e o combate à fome, por meio da coleta e da distribuição dos alimentos que seriam descartados para as instituições cadastradas.

Aqui em Sorocaba o programa foi implantado há um ano e por mais que eu já tivesse ouvido falar sobre ele, não poderia nem imaginar como ele funciona na prática. Também não passava pela minha cabeça a quantidade de alimentos que, se não fossem captados pelo Mesa Brasil e distribuídos, iriam para o lixo! 

E na prática, tudo é muito mais simples do que parece, te juro! E por isso meu sentimento durante todo o dia, foi o de "Meu Deus, porque não tem mais empresas fazendo o mesmo?". Pra te provar o que estou dizendo, vou detalhar aqui como tudo acontece!

Foto: Mirella Ghiraldi

Comecei o meu dia encontrando as duas equipes do Mesa Brasil às 07:00 no Sesc. Cada equipe é composta por um motorista e um ajudante e com um roteiro pré definido em mãos, saí acompanhando um dos caminhões (depois fui acompanhar o outro também) para fazer o que eles chamam de "Colheita Urbana", ou seja, é nesse momento que eles visitam os doadores cadastrados para fazer a captação dos alimentos. 

Meu primeiro destino foi um distribuidor de bananas na cidade de Votorantim, aqui do ladinho de Sorocaba. Ao chegarmos, os meninos do Mesa Brasil já me mostraram o local onde ficam as caixas que são destinadas à doação, e preciso confessar, em um primeiro momento, a quantidade de caixas me chocou, não tanto pela quantidade em si, mas pela qualidade das bananas que ali estavam. Porque quando pensamos em doação de alimentos, em um primeiro momento, é claro que vamos pensar em alimentos batidos, ou algo do gênero, mas não gente, as bananas estavam perfeitas! 

E os questionamentos começaram ali, e coitados dos meninos que precisaram aguentar essa menina perguntadeira aqui...risos. Eles prontamente me explicaram tudo. O que acontece, é que naquele ponto de maturação, muitos mercados não aceitam mais receber o produto, porque em 1 ou 2 dias, ele já começa a apresentar algumas manchinhas na casca, e o consumidor (e me coloco nesse grupo), na maioria das vezes, não quer levar um produto assim para a casa. Juro, senti vergonha de mim nesse momento.

Vale ressaltar aqui, que as equipes responsáveis por essa captação, são muito bem treinadas e capacitadas, pois a seleção e separação dos alimentos é feita no local, e por isso, eles precisam estar sempre atentos quanto a qualidade do que será doado. Por exemplo, no caso das bananas, as que estavam completamente pretas, moles ou apresentam algum tipo de bolor, não são levadas. E isso vale na verdade, para todos os alimentos.

Só para que vocês tenham uma ideia, nesse dia, só de bananas, foram recolhidas mais de 500 Kg. É assustador, não é mesmo? E muitas bananas, infelizmente não estavam aptas para o consumo e tiveram que ser deixadas. Neste caso, ou elas são doadas para criadores de porcos, ou então infelizmente, vão para o lixo.

Foto: Mirella Ghiraldi

A Érica, coordenadora do programa em Sorocaba, me contou que a orientação para sua equipe é sempre para que eles se questionem se comeriam aquele alimento, se a resposta for positiva e se o alimento estiver dentro da qualidade desejada, deve ser separado para doação. 

E percebi que esse questionamento é frequente nas equipes. Quando perguntei ao Thiago, colaborador de uma das equipes, se a sua relação com a compra e consumo dos alimentos mudou, ele foi categórico em dizer que sim, porque além de aproveitar os alimentos de forma integral, passou também a controlar o que, e quanto de cada item ele compra para sua família, dessa forma ele evita o desperdício.

Bom, mas o meu dia continuou, e visitamos mais alguns doadores. E vale a pena frisar que o treinamento também acontece nesses doadores, porque é importante que eles saibam como armazenar e quais cuidados devem ter com esse alimento que será doado. E outra coisa, não pense que só existem doações de supermercados ou distribuidores de grande porte, pelo contrário, estive uma quitanda onde cuidadosamente estavam pés de alface separados com muito carinho para que fossem levados. 

Enquanto a captação acontece, a comunicação com a equipe interna do Mesa Brasil não para. Tudo o que é recolhido, é colocado em uma espécie de recibo, e enviado através de fotografia e mensagem para esta equipe que vai monitorando as quantidades e já trabalhando no roteiro de distribuição, ou seja, determinando quanto e o que, será destinado para cada instituição.

E nesse dia, aproximadamente 580 Kg foram recolhidos, separados e armazenados em sacos e caixas apropriados, e colocados cuidadosamente dentro dos caminhões refrigerados. E ao término dessa "colheita", era hora de retornar ao Sesc para que eles recebessem a lista de instituições que seriam atendidas naquele dia. Todo esse processo, vale ressaltar, acontece diariamente, de segunda a sexta-feira.

Antes de chegar no Sesc, perguntei ao Anselmo, outro colaborador do Mesa Brasil, como era trabalhar nesse programa, a resposta foi simples, direta e emocionante: "Agora eu sei que esse tomate, vai para o prato de quem talvez não tivesse um tomate para comer". Acho que isso explica muito sobre o programa, não é mesmo?

Depois do almoço é hora de distribuir os alimentos doados. Visitei instituições que cuidam de idosos e crianças. Em todas elas a emoção correu solta. Ver a alegria com que o Mesa Brasil é recebido me deu a noção exata do quanto todos eles aguardam e precisam daquelas doações. Alimentos, que mais uma vez eu repito, seriam descartados se não fosse este trabalho que é realizado.

Foto: Mirella Ghiraldi

Durante essas visitas ouvi histórias lindas, de como agora as crianças tomam suco natural de frutas, como as cozinheiras e merendeiras aprenderam a fazer molho de tomate caseiro, que todo dia elas buscam receitas para oferecer um cardápio mais nutritivo para os assistidos, e o quanto as oficinas, oferecidas pelo Mesa Brasil, são importantes para que eles possam aproveitar os alimentos de forma integral.

Que lição! O dia terminou e minha cabeça não para desde então. Se por um lado o sentimento era de "ufa, se tem alimento para ser doado, as instituições terão o que comer", por outro era de "meu Deus, de onde vem tudo isso, todo esse desperdício!".

Onde é que a gente se encaixa nessa cadeia? Eu, você, nossa família, supermercados, produtores... Onde? Será que nós estamos comprando de forma correta? Será que não estamos comprando e estocando uma quantidade de comida desnecessária e muitas vezes perdendo e descartando alimentos dentro de casa? Será que os mercados estão comprando muito mais do que a demanda exige e estocando um alimento que não será entregue ao consumidor com a "qualidade" desejada e por isto o desperdício é tão grande? 

São tantas as perguntas... e eu não sei como buscar tantas respostas. O que eu sinceramente acho que deveríamos fazer, é procurar saber quem são esses supermercados que pelo menos tem o interesse em fazer parte de programas como o Mesa Brasil. Acho que é um incentivo a mais para que outros comecem a participar também. É um absurdo pensar que grandes mercados não topam participar do programa e se omitem quanto a sua responsabilidade nessa cadeia. E enquanto consumidores, precisamos muito rever, de forma urgente, o que estamos fazendo com esse consumo desenfreado. Precisamos parar de comprar só os alimentos que reluzem e são redondinhos e perfeitinhos. Não! A gente precisa mudar a nossa visão sobre o que é comida de verdade.

Escrevi no Facebook do Arte na Cozinha, que a palavra que resumiu meu dia foi disponibilidade. E repito a pergunta que fiz neste post: qual a sua disponibilidade em colaborar com essa cadeia? Vamos começar a pensar nisso? 

Eu não tenho palavras para agradecer a todos do Mesa Brasil Sorocaba, Érica, Cláudia, Bianca e os meninos que estiveram comigo e foram de uma educação e de um carinho únicos, Anselmo, Thiago, Rodrigo e Márcio. Além disso, meu agradecimento especial a Mirella, que cedeu todas as fotos que vocês estão vendo neste post. Muito obrigada por tudo o que aprendi neste dia com vocês e parabéns ao Sesc por esta iniciativa.
Foto: Mirella Ghiraldi
Deu pra entender, porque eu disse no começo do post que a prática é mais simples do que parece? Acabar com a fome no país me pareceu algo muito mais possível depois de viver essa experiência. São 7 pessoas diretamente fazendo esse trabalho em uma empresa com cerca de 200 funcionários em uma cidade de 600 mil habitantes. Eles solucionam e suprem todas as necessidades das entidades? Ainda não. Mas será que se mais empresas fizessem o mesmo, não teríamos uma solução para este problema? Boa vontade, colaboração e mais uma vez, disponibilidade! Pra mim, essa é a chave para mudar essa realidade!

Visite os blogs Dom Manjericão e Artes da Mel, para ler o relato das minhas queridas amigas que também visitaram este Programa!

Grata a tudo e a todos! 

Ahhh, e claro, na próxima semana vamos ter mais uma novidade! Fiquem de olho nas redes sociais porque recebi um desafio do Mesa Brasil Sesc Sorocaba e vocês vão saber o resultado desse desafio na terça-feira que vem, dia 29/05! Fique de olho nas redes sociais do Arte na Cozinha!

Para maiores informações sobre o Mesa Brasil Sesc Sorocaba acesse sescsp.org.br/sorocaba ou pelo telefone (15) 3332-9933.

Espero que vocês tenham gostado deste post sobre meu dia com o Mesa Brasil Sesc Sorocaba!
Beijos a todos!
Fla

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